segunda-feira, 3 de maio de 2010

Uma metáfora

"Imaginei uma festa que eu mesmo desse, uma festa, por exemplo, para comemorar o meu fim, digamos. Diria a cada amigo, colega ou conhecido:
-Olha, amanhã vou me matar, e gostaria antes de celebrar com alguns amigos. Só o pessoal mais chegado. Uns trezentos, trezentos e cinquenta. (...)

Façam as listas, senhores, faites vos jeux, faites vos jeux, quem você convidaria?

Deste lado, os entes imaginários mais queridos, mamãe, papai, o professor Propp, tia Verônica, a doutora Margaret, a namorada do Marcelo, as irmãs Consuelo, o filho do seu Djalma, o Eusébio e a Sheila e toda a família do Mário. Isso sem falar nos Tavares de Lima, nos Cabral de Mello, nos Cavalcanti Proença, os da Silva Ramos, os Pereira Carneiro, os Leitão da Cunha, os Loyola Brandão, isso sem falar naqueles outros lá, que estão olhando, com uma cara pedincha, esperando entrar na lista a qualquer momento.

Deste lado, as pessoas de carne e osso: King-Kong, Bruce Lee, Greta Garbo, O Homem Que Ri, O Velho E O Mar, Jesse James, Erik Leif o Vermelho, Madame Rovary, Hugh Selwyn Mauberley, Moby Dick, El Cid, Kublai Kã, Corisco, Rett Butler, Gregory Peck, Rrose Sélavy, a hipótese, Drácula, a medusa, D. Sebastião, o quadrado da hipotenusa, a felicidade universal, things like that. Todo mundo, menos o Nostradamus, por favor.

E quanto a você? Que tal, convidaria a si mesmo?
Sem você, não vai ter a menor graça. E, não tem dúvida, vai ser uma festa e tanto..."

(Agora é que são elas - Paulo Leminski)