terça-feira, 30 de novembro de 2010

UMA LEMBRANÇA

"Era uma noite estrelada e sem nuvens, o cheiro de mar se misturava ao barulho das ondas quebrando não tão longe da praia. Um enorme grupo de jovens festejava em volta de uma jukebox, onde só tocava Legião; com seus cigarros e bebidas conversavam alto sobre nada; acho que só a sensação de estar entre 'amigos' devia satisfaze-los.
Um pouco afastadas dali, duas meninas observavam o céu, sentadas lado a lado na areia. Conversavam sobre o dia, pessoas, família... ou melhor, uma falava enquanto a outra apenas escutava e algumas vezes comentava a respeito, sempre com um sorriso que aparentemente deixava a amiga sem jeito. Em determinado momento, o assunto acabou e por instantes só o barulho das ondas. Começara a esfriar e uma se aninhou na outra afim do 'calor humano', mas com isso surgiu uma sensação estranha... Sentia o perfume de sua amiga e parecia viajar em sentimentos e desejos; seu coração começara a bater mais forte, fazendo com que não conseguisse disfarçar algo oculto a algum tempo, não se sabe quanto.
Sem entender, a amiga continuava sorrindo enquanto sua mão deslizava até apoiar-se na cintura da outra. De repente, bem baixinho, um gemido tímido, seguido por um olhar de surpresa encontrando-se com um sem jeito e uma risada. A amiga sem jeito rapidamente tentou se levantar, mas a outra a segurou, talvez querendo perguntar o que acontecera; enquanto uma tentava se soltar, a outra a puxou e, sem que percebessem seus lábios se tocaram e se afastaram rapidamente.
As duas ficaram imóveis por alguns segundos e a que tanto lutou para se soltar caiu de joelhos de frente para a outra, com a cabeça baixa sentia seu rosto queimar. Enquanto a amiga parecia estar perdida em pensamentos. As ondas continuavam a quebrar não tão longe de onde as amigas estavam. E por aproximadamente 2 minutos (o que mais pareciam 2 horas) o silêncio entre as duas parecia mortal. Este silêncio porém, foi quebrado com o barulho de vidro se quebrando, o que fez com que a amiga voltasse à realidade; a outra agora se sentava sobre os joelhos, ainda olhando para o chão esperando uma bronca ou algo do gênero, o que aconteceu foi algo bem diferente disso.
Nem se importou em descobrir de onde vinhera o barulho do vidro, a amiga levemente acariciou o rosto da outra, fazendo com que essa sussurrasse um pedido de desculpas; continuou acariciando, enquanto a outra começara a derramar algumas lágrimas; lentamente foi aproximando seu rosto com o dela; a outra continuara pensando na possibilidade de ouvir aquela bronca, mas esse pensamento rapidamente fugiu de sua cabeça ao sentir os lábios suaves e quentes de sua amiga. Fechou os olhos e correspondeu àquele beijo, pela primeira vez um beijo que realmente mecheu com todos os seus sentimentos; Lembranças surgiam na cabeça das duas, todos os momentos juntas, desde que se conheceram a alguns anos, até os dias atuais, o que fez com que o beijo ficasse mais intenso.
Após certo tempo, lentamente ambas se afastavam. Sem jeito, tentavam se encarar o máximo que podiam, mesmo com o rosto queimando e o coração acelerado, mas era dificil, então olharam para o alto, procurando uma estrela bem brilhante. Ao encontrarem, se entreolharam e suas mãos se tocaram. O sorriso novamente surgiu, fazendo com que a amiga sem jeito roubasse um beijo tímido e decidido. Dessa vez, se abraçaram e permaneceram assim por mais algum tempo.
Os jovens começaram a ir para o ponto de onibus, sinal de que já estava tarde, bem tarde, então o jeito era se levantar e caminhar em direção aos pontos em frente ao shopping. Como uma ia em direção contrária a outra e, aquele era o último horário dos onibus, elas teriam que se despedir um pouco antes de chegar aos pontos. Um beijo foi o sinal de despedida, com a frase 'É meu último dia aqui, amanhã irei morar longe...' o que fez o sorriso sumir do rosto de uma, 'Por favor, não fique assim.' Mas era tarde demais.
Apesar da decepção, houve o abraço apertado, as juras de amor que até o momento pareciam mais juras de amizade, e o último beijo, o que vai ficar guardado para sempre na memória. O mais delicado, intenso, sedutor... Aquele que deu sentido às confusões de todos os sentimentos. O último...
Ouviu-se o barulho do onibus, o que a levaria para longe, longe de tudo o que havia acabado de acontecer, longe das ondas, da areia, da amiga, de todos os outros amigos... A única coisa que restara para aproximar as duas, foi a suposta estrela, a mais brilhante. A única coisa que aproxima as duas."